Resposta as Objeções contra a Trindade — John Owen

Jadson Targino
5 min readSep 22, 2020

O resumo do que eles [os antitrinitários] dizem em geral é:

1. “Como essas coisas podem ser? Como três podem ser um, e um ser três? Toda pessoa tem sua própria substância; e, portanto, para que sejam três pessoas deve haver três substâncias, e assim três deuses”.

Resposta. Toda pessoa [da Trindade] tem distintamente sua própria substância, pois a única substância da deidade é a substância de cada pessoa, por isso ainda assim ela é uma; mas cada pessoa não tem sua própria substância distinta, porque a substância de todos elas é a mesma, como foi comprovado.

2. Eles dizem: “Se cada pessoa for Deus, então cada pessoa é infinita, e há três pessoas, então deve haver três infinitos”.

Resposta. Isso não segue nem mesmo minimamente; cada pessoa é infinita à medida que ela é Deus. Todas as propriedades divinas, como o ser infinito, não pertencem às pessoas por conta de sua personalidade, mas por conta de sua natureza, que é uma, pois todas são propriedades da natureza.

3. Mas eles dizem: “Se cada pessoa for Deus, e esse Deus subsiste em três pessoas, então, em cada pessoa, há três pessoas ou Deuses”.

Resposta. Esse sofisma consiste na expressão “for Deus” e “esse Deus”. Na primeira expressão, a referência é à natureza de Deus; na última, a uma pessoa singular. Coloque as palavras de modo inteligente, e elas são assim: “Se cada pessoa for Deus, e a natureza de Deus subsiste em três pessoas, então, em cada pessoa, há três pessoas”, e então a loucura disso será evidente.

4. Mas eles ainda inferem: “Se negarmos que as pessoas sejam infinitas, então afirmaremos que um ser infinito tem um modo finito de subsistir, e assim não sei que suposição eles fazem; pois tendo em vista que não há três infinitos, então o Pai, o Filho e o Espírito são três infinitos que constituem um infinito”.

Resposta. A fraqueza lamentável desse sofisma está evidente a todos; pois finitos e infinitos são propriedades e complementos de seres, e não da maneira da subsistência de qualquer coisa. A natureza de cada pessoa é infinita, e assim é cada pessoa por causa dessa natureza. Quando ao modo de sua subsistência, finitos e infinitos não podem ser propriedades pressupostas ou faladas, não mais do que dizer que um ser infinito subsiste.

5. “Mas você admite”, dizem eles, “que o único Deus verdadeiro é o Pai e, se Cristo é o único Deus verdadeiro, então Ele é o Pai”.

Resposta. Dizemos que o único Deus verdadeiro é o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Nós nunca dizemos, a Escritura nunca diz, que somente o Pai é o único Deus verdadeiro; pois disso seguiria, então, que aquele que é o Deus verdadeiro é o Pai. Mas nós admitimos que o Pai é único Deus verdadeiro; e assim dizemos que o Filho também o é. E na verdade não segue que o Filho é o Pai; porque, ao dizer que o Pai é o Deus verdadeiro, não nos referimos à Sua paternidade e nem à Sua relação paterna com o Seu Filho, mas à Sua natureza, essência e ser. E o mesmo afirmamos sobre as outras pessoas. E dizer que, porque cada pessoa é Deus, então uma pessoa deve ser a outra, é implorar a permissão para não acreditar no que Deus revelou, sem dar qualquer razão por isso. Mas esse sofisma foi emprestado de outro, a saber, Crellius, que insistiu muito nisso, eu falo sobre ele e não sobre eles quando digo que — tanto quanto consigo compreender, não entendo muito da sua intenção — isso o refuta completamente: É proposto por ele em forma de silogismo o seguinte: “O único Deus verdadeiro é o Pai; Cristo é o único Deus verdadeiro: portanto Ele é o Pai”. Agora, esse silogismo é ridiculamente sofístico. Pois, em um silogismo categórico, a principal proposição não é ser particular ou equivalente a um particular; porque, a partir de tal proposição, quando qualquer coisa comunicável a mais é o assunto dela, e é restringida a um particular, nada pode ser inferido na conclusão. Mas tal é essa proposição aqui, o único Deus verdadeiro é o Pai. Essa é uma proposição particular, em que o sujeito é restringido a um predicado singular ou individual, embora em si mesmo seja transmissível a outro. Agora, a proposição feita particular, os termos do sujeito ou do predicado são supostos recíprocos, ou seja, que um Deus e o Pai são os mesmos; o que é falso, a menos que seja provado pela primeira vez que o nome de Deus não é transmissível a outro, ou nenhum outro, mais do que o outro termo Pai: supor isso é assumir a verdade do próprio ponto levantado na questão; pois o termo único Deus verdadeiro tem uma significação mais abrangente do que o termo de Pai ou Filho. Pois, embora o único Deus verdadeiro seja o Pai, contudo, todo aquele que é Deus verdadeiro não é o Pai. Vendo, então, que o nome de Deus aqui fornece o lugar de uma espécie, embora seja absolutamente singular, na medida em que respeita a natureza divina, que é absolutamente singular e una, e não pode ser multiplicada, no entanto, no que diz respeito à comunicação é de outra forma: a natureza divina é comunicada a mais de um singular, a saber, ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo. E, portanto, se alguma coisa se destina a ser concluída a partir daí, a proposição deve ser expressa de acordo com o que o sujeito exige, como capaz de comunicação ou atribuição a mais de um, ou seja: Que o único Deus verdadeiro é o Pai — mas essa proposição tais pessoas e seus mestres jamais poderão provar.

Texto adaptado de: OWEN, John. A doutrina da Trindade: Provada pela Bíblia. 1 ed. São Paulo: Estandarte de Cristo. 2017, p. 55ss. [Edição de Kindle]

Sobre o autor: John Owen (1616–1683) foi um importantíssimo e renomado teólogo puritano. Considerado um dos maiores teólogos reformados de todos os tempos, ao lado de Edwards e Calvino, escreveu muitas obras pelas quais é lembrado até hoje tais como “A morte da morte na morte de Cristo”, “Comunhão com o Deus trino”, “A mortificação do pecado” etc.

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Jadson Targino

Seminarista pelo CETAD/PB (seminário da Assembleia de Deus na Paraíba), tradutor e graduando em Ciências da Religião pela UFPB.