Pelo Mundo Inteiro: Redenção Geral na Teologia Reformada

Jadson Targino
19 min readJun 24, 2020

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Mundo

Introdução

Preparei essa coletânea de citações a partir da leitura de diversos materiais que utilizei no estudo da questão apresentada: a presença significativa de uma redenção geral (universalismo hipotético ou expiação ilimitada, seja como queira você nomear) na Teologia de diversos teólogos reformados, os quais entendiam que uma Eleição Incondicional é perfeitamente harmonizável com a declaração de que “Jesus morreu por todos os homens”.

Isso não implica em nenhum tipo de arminianismo (como os próprios teólogos deixarão claro).

Ao todo, são 25 teólogos de grande renome. Uma última observação: por limitação de espaço, a lista não é exaustiva: mais teólogos poderiam ser mencionados e mais citações dos que já estão presentes aqui poderiam ser incluídas. Boa leitura!

“Senhor Deus Todo poderoso, tomaste a dianteira frente a TODOS OS HOMENS, pois te reconciliaste com o MUNDO por meio da CRUZ e pedes aos homens que acolham a reconciliação”.

(Trecho da oração “Reconciliação” in: O Vale da Visão: Uma coletânea de Orações Puritanas. Edit. Monergismo, p. 60).

As citações

Agostinho de Hipona (354–430):

Embora não seja um teólogo reformado (o que seria anacronismo, obviamente) o teólogo e bispo africano supracitado serviu de ampla inspiração para todos os teólogos reformados citados a seguir. Agostinho repetia diversas vezes em suas obras que Jesus havia morrido sem impor qualquer tipo de qualificação ou especificação. E existem algumas declarações mais explícitas que eu gostaria de citar abaixo:

“Pois com justiça julgará o mundo; não uma parte dele, por que não comprou só uma parte, julgará o TODO, pois foi pelo TODO que pagou o preço” (Agostinho, Exposição no livro de Salmos in: NPNF, 8:471–72).

Perceba: para Agostinho, Jesus julgará a todos do mundo porque pela sua morte ele comprou a todos. Julgará o todo, pois feito pelo TODO que pagou o preço. Para que não fique dúvidas, menciono o fato de que para Agostinho Jesus redimiu até mesmo Judas (no que se refere a provisão da expiação!). O ensino de Agostinho sobre a Eleição incondicional não leva o bispo de Hipona a defender a expiação limitada necessariamente.

“Pois [Judas] lançou fora as moedas de prata, pelas quais o Senhor fora vendido, e não conheceu o preço com o qual ele [Judas] mesmo fora REDIMIDO pelo Senhor. Foi isto que aconteceu no caso de Judas.” (Agostinho, Exposição no livro de Salmos in: NPNF, 8:309, citando o Salmo 69:26–27).

Girolamo Zanchi (1516–1590):

Na sua obra De Religionis Christiana Fide, Girolamo se queixa do erro doutrinário daqueles que “como os judeus e os islâmicos negam que o mundo foi redimido pelo benefício da morte de Jesus” (Cap. X, parágrafo 15, tradução nossa).

Ele também afirma que os ímpios são excluídos da eficácia do sacrifício de Jesus somente por causa da sua incredulidade. É uma indicação clara de subscrição da fórmula lombardiana (suficiente pra todos, eficiente apenas nos eleitos):

“Pelo que cremos que, apesar da graça da redenção, salvação e vida eterna, a qual Deus nos dá, seja proposta sinceramente a todos os homens pela pregação do evangelho (graça esta da qual os homens só não se tornam participantes da mesma por causa de seu própria culpa) ela não é comunicada a todos…” (Cap. XII, parágrafo 2, tradução nossa).

Zacharias Ursinus (1534–1583) e Caspar Olevian (1536–1587):

No Catecismo de Heidelberg, redigido pelos mesmos, podemos ler que Jesus na cruz “suportou a ira de Deus contra os pecados de todo o gênero humano” (Pergunta 37, leia aqui o catecismo). Zacharias chega a comentar: “O que Cristo, portanto, sofreu? … A mais aguda e amarga angústia da alma, que é sem dúvida o sofrer a ira de Deus contra os pecados de toda a raça humana. Cristo fez satisfação por todos, isso diz respeito a suficiência da satisfação que ele fez” (Commentary on Heidelberg Catechism, comentário da pergunta 37, p. 395-396, 400. Tradução nossa).

Depois expõe:

A expiação de Cristo é suficiente para expiar todos os pecados de todos os homens, ou de todo o mundo, SE todos os homens se aplicarem a si mesmos pela fé. Pois não se pode dizer que seja insuficiente, a menos que demos testemunho da blasfêmia horrível (que Deus proíbe!) de que alguma culpa da destruição dos ímpios resulte de um defeito no mérito do Mediador. A razão deste último é porque todos os eleitos, ou aqueles que acreditam, e somente eles, o fazem aplicam a si mesmos pela fé o mérito da morte de Cristo, juntamente com a eficácia da mesma, pela qual obtêm justiça e vida conforme é dito: “Quem crê no Filho de Deus tem a vida eterna”. (João 3:36) O restante é excluído desta eficácia da morte de Cristo por sua própria incredulidade, como é novamente dito: “Quem não crê não verá a vida, mas a ira de Deus permanece sobre ele”. (João 3:36) Portanto, aqueles que as Escrituras excluem da eficácia da morte de Cristo não podem ser incluídos no número daqueles por quem ele morreu com relação a eficácia de sua morte, mas apenas em relação a sua suficiência; porque a morte de Cristo também é suficiente para a salvação deles, SE eles crerem; e a única razão de sua exclusão surge de sua incredulidade” (Ibid, Comentário da pergunta 40, p. 412–413).

Richard Hooker (1554–1600):

Richard escreveu que “Deus quer que todos os homens sejam salvos, e Cristo mediante sua graça, morreu por todos” (Dublin Fragments 34, 4:145.2–8. Tradução nossa). Semelhantemente: “[Cristo] deu a si mesmo para ser um preço de redenção por todos” (Of the Laws of Ecclesiastical Polity. Book V, 49:1:202:25. Tradução nossa).

Hooker também afirmou:

[Jesus foi] posto [por Deus] como uma provisão geral para servir como um remédio mais do que suficiente pelo pecado de toda a raça humana, embora [também] esteja ordenada para ser feita eficaz por uma provisão particular ou individual” (Dublin Fragments 33, 4:144:26–30. Tradução nossa).

“Deus é desejoso da salvação de todos os homens… A mesma afeição estava em Cristo, a quem os iníquos na desgraça do seu último dia nunca se atreveriam a usar como sua desculpa, que aquele que se ofereceu como sacrifício para resgatar alguns, excluiu o resto e assim fez caminho da salvação deles é impossível. Ele pagou um resgate pelo mundo inteiro, nele as iniquidades de todos foram pagas, e como São Pedro claramente afirma, ele comprou aqueles que o negam e que perecem porque o negam. Como em verdade, se nós respeitamos o poder e a suficiência do preço dado… temos razão para reconhecer com alegria e conforto que ele provou a morte por todos os homens, como notou o autor aos hebreus” (Dublin Fragments 33, FLE, 4:144. Tradução nossa).

James Ussher (1581–1656):

Ussher afirmou:

“… Prefiro mantê-lo plenamente, pelo que disse: ‘Etsi Christus pro omnibus mortuus est, tamen specialiter pro nobis passus est, quia pro Ecclesia passus est’ (lat. ‘Embora Jesus tenha morrido por todos, sofreu de maneira especial por nós, pois pela Igreja sofreu’). Sim, e em meus escritos anteriores concluí diretamente, que, em um aspecto, poderia ter sido dito que Cristo morrer por todos, então, em outro aspecto, realmente disse que não morreu por todos; e minha crença é que o principal fim da morte do Senhor era ‘que ele pudesse reunir os filhos de Deus espalhados pelo mundo’ e, que por eles ele se santificou especialmente, para que ‘também pudessem ser santificados pela verdade’”… (An Answer of the Archbishop of Armagh, to Some Exceptions Taken Against His Aforesaid Letter, in The Whole Works of the Most Rev. James Ussher, [Dublin: Hodges, Smith, and Co., 1864], 12:561–571. Tradução nossa).

E também:

“…Nosso Salvador Cristo está disponível a todos, todos são convidados a ele, ninguém que tenha a intenção de aceitá-lo é excluído… Nem todos eles obedeceram ao Evangelho, nem todos estão aptos a receber esta mensagem de paz e, portanto, embora os embaixadores de Deus façam dela uma verdadeira oferta a todos a quem são enviados, ainda assim ‘a paz deles repousa apenas nos filhos da paz’, ‘mas se não encontrarem quem os ouça’, a paz deles voltará a si mesmos…” (The True Intent and Extent of Christ’s Death and Satisfaction on the Cross, in The Whole Works of the Most Rev. James Ussher [Dublin: Hodges, Smith, and Co., 1864], 12:553–559. Tradução Nossa).

John Knox (1514–1572):

“… [Cristo] ofereceu a si mesmo como único sacrifício para purgar os pecados do mundo inteiro” (Genevan Confession, 1556. Símbolo de Fé subscrito pelo reformador escocês junto a outros ministros).

Ulrich Zwingli (1484–1531):

O reformador suíço sustentou: “Portanto o sangue de Cristo, oferecido de uma vez por todas, consegue remover todos os pecados de todos os homens” (Zwingli, Commentary on True and False Religion, [Durham, N.C: Labyrinth Press, 1981], p. 234. Tradução nossa).

Ele afirmou:

“Mas agora chego às palavras que citei [Jo. 6:53]: “Se não comerdes”, ou seja, a não ser que firmemente e com sinceridade creias que Cristo foi morto por você, para resgatá-lo, e que Seu sangue foi derramado por você, para lavá-lo e assim redimi-lo… “não tendes vida em vós”. Visto que, portanto, somente Cristo foi sacrificado pela raça humana, Ele é o único através do qual podemos vir ao Pai…” (Ibid, p. 128).

E também:

Pois Ele expiou os pecados de todos desde a fundação do mundo, assim ele será até o fim do mundo, o portador da salvação para todos que confiam nele; pois Ele é Deus eterno; através Dele fomos criados e redimidos… Eles [os padres] são os dispensadores dos mistérios, isto é, as coisas ocultas de Deus [cf. 1 Cor. 4: 1], e não são o sacerdócio de Cristo; pois isso não pode ser outra coisa senão o próprio Cristo fazendo satisfação com o Pai por nós para sempre” (Ibid, p. 235–236).

Por fim:

“…aqueles sanguinários que com muita sede de sangue trouxeram Cristo à cruz ou O difamaram enquanto Ele se pendurava nela, teriam mudado de propósito e afastariam suas mãos perversas dEle, se coisas externas pudessem trazer fé ou remissão de pecados. Pois eles viam não apenas representados por símbolos, mas realizado diante de seus próprios olhos aquilo pelo qual os pecados do mundo inteiro eram expiados. Mas nada disso aconteceu. Somente aqueles que se arrependeram a quem o Espírito iluminou por dentro, de modo que reconheceram que este era o Salvador, e a quem o Pai chamou para vir a Ele e aceitá-Lo” (Zwingli, On The Providence of God, (Durham, N.C: Labyrinth Press, 1983), 190. Tradução nossa).

Heinrich Bullinger (1504–1575):

Bullinger foi responsável pela escrita da Segunda Confissão Helvética, na qual consta: “Jesus Cristo é o único Salvador do Mundo e o verdadeiro Messias esperado. Porque nós ensinamos e cremos que Jesus Cristo, nosso Senhor, é o único e eterno Salvador da raça humana e, portanto, de todo o mundo, em quem pela fé são salvos todos aqueles que antes da Lei, sob a Lei e sob o Evangelho foram salvos e, em quem, no entanto, muitos serão salvos até o fim do mundo” (Cap. XI, De Jesus Cristo, Verdadeiro Deus e homem, único salvador do mundo. Tradução de Emerson Campos). E também:

“Garantia também é dada para aqueles que recebem o sacramento que o corpo do Senhor foi dado e seu sangue derramado, não somente PELOS HOMENS EM GERAL, mas particularmente por cada fiel comungante, para quem eles são comida e bebida para a vida eterna” (Segunda Confissão Helvética, Cap. XXI, Da Santa Ceia do Senhor. Tradução de Emerson Campos).

Citações como essa são comuns em seus sermões:

“…Esse único sacrifício é sempre eficaz para fazer satisfação por todos os pecados de todos os homens em todo o mundo … Os cristãos sabem que o sacrifício de Cristo, oferecido uma vez, é sempre eficaz para fazer satisfação pelos pecados de todos os homens em todo o mundo, e de todos os homens de todos os séculos” (Heinrich Bullinger, Decades, 4th Decade, Sermon 7, vol 2, pp., 285–286, 287, 296. Tradução de Emerson Campos).

Thomas Cranmer (1489–1556):

Cranmer orou: “O grande mistério, que Deus se tornou homem, não foi realizado por poucas ou poucas ofensas. Não entregaste teu Filho, Pai celestial, à morte apenas por pequenos pecados, mas por TODOS OS GRANDES pecados do mundo, de modo que o pecador retorne a ti com todo o seu coração, como eu faço aqui neste presente” (‘The Prayer of Doctor Cranmer’ in Works, 1:XXVI. Tradução nossa). E também afirmou:

“…E para realizar o mesmo, ele fez um sacrifício e oblação de seu próprio corpo na cruz, o que foi uma completa redenção, satisfação e propiciação pelos pecados do mundo inteiro. E para recomendar esse sacrifício a todo o seu povo fiel, e para confirmar a fé e a esperança da salvação eterna no mesmo, ele ordenou uma memória perpétua do seu dito sacrifício, diariamente para ser usada na igreja para seu louvor e louvor perpétuos. , e para nosso conforto e consolo singular...” (Cranmer, ‘A Preface to the Reader’, in Works,1:5. Tradução nossa).

Por fim, “mas a única oferta e satisfação por todos os pecados do mundo é a morte de Cristo, e a oblação de seu corpo na Cruz, ou seja, a oblação que o próprio Cristo ofereceu uma vez na cruz” (Cranmer, ‘Of the Presence of Christ’, in Works 1:81. Tradução nossa). Isso está em perfeita concordância com o símbolo de fé da Igreja Anglicana (os 39 artigos da religião), o qual Cranmer ajudou a escrever: “A oblação uma vez consumada é a perfeita redenção, propiciação e satisfação por todos os pecados, tanto originais como atuais, do mundo inteiro; e não há nenhuma outra satisfação pelos pecados, senão esta unicamente” (Os 39 artigos, ART. XXXI)

William Twisse (1578–1646):

“Eu estou pronto para professar, e isso eu suponho, como fora dito pela boca de vários teólogos, que todos quando ouvem o evangelho (sem distinção entre eleitos e reprovados) devem acreditar que Cristo morreu por eles (1 Jo 5:10–11), de modo a garantir o perdão do seu pecado…” (W. Twisse, The Riches of God’s love unto the vessels of Mercy, Consistent with his Absolute hatred or Reprobation of vessels of Wrath [Oxford: L.L. and H.H, 1653], I: 154. Tradução nossa).

John Preston (1587–1628):

“Vão e digam a todos os homens SEM EXCEÇÃO, que há boas notícias para eles, Cristo foi morto por eles… vão e contem a todos os homens debaixo do Céu” (J. Preston, The Breastplate of Faith and love, 6th ed. [London: G. Purstow, 1651], I:8).

Edmund Calamy (1600–1666):

“Eu estou distanciado da redenção universal no sentido arminiano; mas isso que eu defendo é conforme a opinião de nossos teólogos do Sínodo de Dort, que Cristo pagou um preço por todos, com intenção absoluta para os eleitos e com intenção condicional para os réprobos no caso deles virem a crer, porque todos os homens devem ser salvabiles, non obstante lapsu Adami… porque Jesus Cristo não apenas morreu suficientemente por todos, mas Deus quis, na dádiva de Cristo, e Cristo em dar a Si Mesmo, colocar todos os homens em um estado de salvação no caso deles virem a crer… Eu argumento a partir de João 3:16, cujas palavras fundamentam a intenção de Deus em dar a Cristo, o amor de Deus ao mundo, um ato filantrópico ao mundo dos eleitos e réprobos, e não somente dos eleitos; isso não pode significar ‘dos eleitos’, por causa do ‘todo aquele que crer’… Marcos 16:15. ‘Ide e pregai o evangelho a toda criatura’. Se o pacto da graça é para ser pregado a todos, então, Cristo redimiu, em certo sentido, todos, tanto os eleitos quanto os réprobos; mas ele deve ser pregado a todos, há uma garantia para ele” (In: Minutes of the Sessions of the Westminster Assembly of Divines, eds. Alexander F. Mitchell & John P. Struthers [Edinburgh: W. Blackwood and Sons, 1874], p. 152–152. Tradução de Emerson Campos).

George Calerton (1559–1628):

Cristo, portanto, morreu por todos, para que todos e cada um por meio da fé possam obter remissão dos pecados e a vida eterna pela virtude daquele resgate pago uma vez por todas pela humanidade. Mas Cristo morreu pelos eleitos, para que pelo mérito da Sua morte, de uma maneira especial, destinada a eles de acordo com o eterno beneplácito de Deus, eles pudessem infalivelmente obter a fé e a vida, eterna” (George Carleton, The Suffrage of the Divines of Great Britaine, Concerning the Five Articles Controverted in the Law Countries, [London: Robert Milbounre, 1629], p. 47–48. Tradução nossa).

João Calvino (1509–1564):

Calvino ensinava que “Cristo sofreu pelos pecados do mundo inteiro e na bondade de Deus é oferecido a todos os homens sem distinção; Seu sangue não é derramado por uma parte do mundo apenas, mas em benefício de toda raça humana. Pois embora no mundo nada seja considerado digno do favor de Deus, contudo Ele oferece a propiciação a todo mundo, uma vez que, sem exceção, convoca todos à fé de Cristo que é nada mais que a porta da esperança” (John Calvin, “Commentaries on the First Epistle to John” in Calvin’s Commentaries, vol. 22, trans. W. Pringle [Grand Rapids: Baker, 2009], p. 172. Tradução nossa).

Em outras passagens, confirma seu ensino de que o Pai “torna seu favor comum a todos, porque é proposto a todos… embora Cristo tenha sofrido pelos pecados do mundo inteiro, e oferecido pela benignidade de Deus indiscriminadamente para todos, mas nem todos o recebem” (John Calvin, ‘Commentaries on the Epistle to the Romans’ in Calvin’s Commentaries, vol. 19, trans. W. Pringle [Grand Rapids: Baker, 2009], p. 211. Tradução nossa). Alguns calvinistas dizem que o fato de Jesus ter dito que o sangue dEle foi derramado em favor de muitos (e não de todos) implica na expiação limitada. Calvino discorda disso, pois para o reformador, “pela palavra ‘muitos’, Ele (Jesus) quer dizer não apenas uma parte do mundo mas TODA a raça humana” (Calvin, Commentaries on the Harmony of the Gospels, vol. 2 [Grand Rapids: Eerdmans, 1949], p. 214). Multo dicit pro omnibus (lat. “muitos quer dizer por todos”).

“A salvação trazida por Cristo é comum a toda a raça humana, tal como Cristo, o autor da salvação, descende de Adão, o pai comum de todos nós” (Institutas da Religião Cristã, Livro II, cap. 13, 3).

“Mas aqui há uma relação especial. É que Ele seria o Redentor do mundo. Ele seria condenado, na verdade, não por ter pregado o Evangelho, mas por nós seria oprimido, por assim dizer, nas profundezas, e sustentou a nossa causa, pois Ele estava lá, por assim dizer, na pessoa de todos aqueles malditos e de todos os transgressores, e daqueles que mereceram a morte eterna. Então, uma vez que Jesus Cristo tem esse oficio, e carrega o fardo de TODOS aqueles que ofenderam mortalmente a Deus, é por isso que Ele manteve o silêncio” (John Calvin, Sermons on the Deity of Christ, Sermon 5, Matt 25:51–56, pp., 89 and 95. Tradução de Emerson Campos).

Moses Amyrault (1596–1664):

“Visto que a miséria dos homens é igual e universal e que tão grande desejo que Deus teve de libertá-los por meio de um Redentor procede da compaixão que Ele tem por eles, como Suas criaturas que caíram em uma ruína tão grande e desde que são igualmente suas criaturas, a graça da redenção que Ele adquiriu e ofereceu a elas deve ser igual e universal, desde que elas também estejam dispostas a recebê-la. E, nessa medida, não há diferença entre elas… O sacrifício que Ele ofereceu para a propiciação de suas ofensas foi igualmente proposto para todos, e a salvação que ele recebeu de seu Pai para comunicar aos homens na santificação do Espírito e na glorificação do corpo é igualmente destinada a todos. Tudo, desde que, digamos, a disposição necessária para recebê-la seja da mesma maneira igual [em todos]…” (Moïse Amyraut, Brief Treatise (1634), p. 38. Tradução nossa).

Peter Martyr Vermigli (1499–1562):

“De bom grado, concedemos isso também, se considerarmos apenas a dignidade da morte de Cristo, pois ela é mais do que suficiente para todos os pecadores do mundo. No entanto, mesmo que por si só seja suficiente, ainda não teve, nem teve, nem terá efeito em todos os homens. Os escolásticos também reconhecem a mesma coisa quando afirmam que Cristo redimiu todos os homens suficientemente, mas não efetivamente” (Peter Martyr Vermigli, Predestination and Justification, trans., by Frank A. James, [Kirksville, Missouri: Sixteenth Century Essays and Studies, 2003], 8:62. Tradução nossa).

“As feridas já haviam cumprido sua função, pois por elas a raça humana foi redimida, mas ele ainda as tinha depois de ressuscitar dentre os mortos, para que seu corpo fosse exibido como o mesmo que havia sofrido anteriormente” (P. Vermigli, “Resurrection: Commentary on 2 Kings 4,” in Philosophical Works, trans. J. P. McLelland, Sixteenth Century Essays and Studies 4 (Kirksville, MO: Thomas Jefferson University Press, 1994), p. 113. Tradução nossa).

“A cruz era a balança sobre a qual pesava o sangue de Cristo. O preço foi pago pelo mundo inteiro e, se não tivesse sido mais precioso que o mundo inteiro, não teria redimido o mundo” (P. Vermigli, “On the Death of Christ from Saint Paul’s Letterman to the Philippians,” in Life, Letters and Sermons, trans. J. P. Donnelly, Sixteenth Century Essays and Studies 5 (Kirksville, MO: Thomas Jefferson University Press, 1999), p. 243. Tradução nossa).

David Paraeus (1548–1622):

Cristo morreu por todos no que diz respeito ao mérito e suficiência do resgate que pagou, mas apenas pelos crentes no que diz respeito à aplicação e eficácia da sua morte; tendo em vista que a morte de Cristo é aplicada somente a estes, e é proveitosa a eles, é corretamente dito que pertence propriamente somente a eles, como já foi mostrado” (Comentário sobre a Questão 40 do Catecismo de Heidelberg. [pp., 221–225]. Tradução de Emerson Campos).

Wolfgand Musculus (1497–1563):

“O quarto argumento do amor de Deus para o homem, é a morte do Unigênito, que foi entregue com o propósito da redenção de nossa espécie… E o unigênito de Deus diz: “Deus amou o mundo de tal maneira” (diz ele), “que deu o Seu Filho unigênito, para que todo aquele que Nele crê, não pereça, mas tenha a vida eterna “(João. 3.). De forma que por ‘mundo’ ele quer dizer ‘toda a humanidade’”(Common Places of Christian Religion, trans., by Iohn Merton [London: Imprinted by Henry Bynneman, 1578], p. 962–963. Tradução de Emerson Campos).

A salvação é proposta para ser por todos e suficiente para todos, e agora pode ser recebida por todos, ‘Deus amou o mundo que deu seu filho unigênito, para que todo aquele que nele crê, não pereça, mas tenha a vida eterna’( João 3). Assim Ele morreu por todos (porque todos estavam mortos) para que todo aquele que Nele crer possa ser trazido de volta à vida e ser salvo” (In ambas apostoli Pauli ad Corinthios epistolas commentarii. [Basel: Per Haeredes Ioannis Hervagii, 1566], p. 174-175).

Matthew Henry (1662–1714):

“Ele é o único Redentor? Sim, porque não há outro nome debaixo do céu dado entre os homens pelo qual devamos ser salvos, Atos 4:12. Ele é um Redentor universal? Sim, ele deu a si mesmo em resgate por todos, 1 Tm. 2:6. Ele morreu para adquirir uma oferta geral? Sim, o Filho do homem foi levantado, para que todo aquele que nele crê não pereça, João 3:14,15. Todo o mundo está melhor pela mediação de Cristo? Sim, porque por ele todas as coisas subsistem, Col. 1:7" (HENRY, Matthew. ‘Scripture Catechism in the Method of the Assembly’s,’ in The Miscellaneous Works of the Rev. Matthew Henry, V.D.M. [London: Joseph Ogle Robinson, 1830], p. 878. Tradução de Emerson Campos).

Richard Baxter (1615–1691):

“Você não pode provar que isso foi em vão e que Deus não poderia ter outro objetivo nisso além da salvação de cada pessoa por quem Cristo morreu, quando, na verdade, a Escritura nos diz claramente que Cristo morreu por todos, mesmo pelos que perecem, e que comprou aqueles que o negaram…” (Catholick Theologie [London, 1675], II: 66–67).

John Davenant (1572–1641):

Davenant cita Bullinger com aprovação: “Assim também Bullinger, sobre Apocalipse 5, Sermão 28: “O Senhor morreu por todos, mas nem todos são feitos participantes da redenção, e isso por meio de sua própria culpa. Por outro lado, o Senhor não exclui ninguém, a não ser aquele que exclui a si mesmo por sua própria incredulidade e infidelidade” (Dissertation on the Death of Christ, p. 337–338. Tradução de Emerson Campos). Também diz:

“Os doutores da Igreja Reformada também, desde o início, falaram de tal maneira sobre a morte de Cristo, que não deram nenhuma ocasião para reviver a disputa. Porque eles ensinaram que ela foi proposta e oferecida a todos, mas recebida e aplicada para a obtenção da vida eterna somente por aqueles que creem… O princípio é o de João 3:16 “Porque Deus amou o mundo de tal maneira, que deu a ele Seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna”. Não é difícil deduzir destas palavras cada parte da proposição acima. Pois, em primeiro lugar, Cristo ser dado pelo Pai à morte, é aqui proposto como um remédio universal provido para todo o mundo, proposto para o mundo inteiro. (‘A Dissertation on the Death of Christ’, in: An Exposition of the Epistle of St. Paul to the Colossians, [London: Hamilton, Adams, And Co. 1832], p. 343–346. Tradução nossa).

John Bunyan (1622–1688):

“Na linguagem de nosso Senhor: “Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura” (Marcos 16:15), e novamente, “Olhai para mim, e sereis salvos, vós, todos os termos da terra” (Is 45:22 ). “E quem quiser, tome de graça da água da vida” (Apocalipse 22:17). E a razão é que, como Cristo morreu por todos, “provou a morte por todos os homens” (2 Cor 5,15; Hb 2:9), é “o Salvador do mundo” (1 João 4:14), e é a propiciação pelos pecados de todo o mundo… Porque, se aqueles que perecem nos dias do evangelho, devem ter, ao menos, a sua condenação aumentada, por negligenciar e se recusar a receber o evangelho, faz-se necessário que o evangelho tenha sido oferecido a eles com toda fidelidade. O que não pode acontecer, a menos que a morte de Cristo se estenda a eles (João 3:16, Hb 2:3); porque a oferta do evangelho não pode, com a permissão de Deus, ser uma oferta que vá além de onde vai a morte de Cristo, porque se essa é tirada, certamente não há evangelho, nem graça a ser estendida. (‘Reprobation Asserted’, in The Works of John Bunyan, [Banner of Truth, 1991], 2:348–349).

Jonathan Edwards (1703–1758):

Edwards, na sua obra ‘Miscelâneas’, escreveu um texto sob o nome de “Redenção Universal”, no qual declara:

Cristo morreu por todos nesse sentido: que TODOS tem por sua morte uma oportunidade de serem [salvos], e ele teve esse desígnio ao morrer, que eles teriam essa oportunidade por meio dela” (J. Edwards, Miscellanies in: Works of Jonathan Edwards Online, 73 v., Ed H.S. Sout [Jonathan Edwards Center, Yale University, 2008], 13.478).

Em outro lugar, também declarou:

“Em algum sentido, a redenção é universal a TODA humanidade, toda a humanidade agora tem uma oportunidade de ser salva, de outra forma ao que eles teriam se Cristo não tivesse morrido. Uma porta de misericórdia foi ABERTA para eles” (J. Edwards, ‘Book of Minutes on the Arminian Controversy’, in: Works of Jonathan Edwards Online, 37:10–11).

E para não restar dúvidas a respeito da visão de Edwards a respeito, ele declarou que Jesus morreu até mesmo por pessoas que JAMAIS aceitarão o convite do evangelho ou crerão. Ou seja, para Edwards, Jesus morreu também por réprobos:

“Sim, eles não o aceitarão, EMBORA TENHA MORRIDO POR ELES, sim, embora ele tenha morrido a morte mais atormentadora, embora e tenha morrido para que [eles] pudessem ser libertados do inferno, e para que pudessem ter o Céu, eles NÃO ACEITARÃO esse dom” (J. Edwards, Sermons and Discourses 1720–1723, in: Works of Jonathan Edwards Online, 10:397–98).

J.C. Ryle (1816–1900):

“Eu não me atrevo a dizer, de nenhuma forma, que não foi feita Expiação exceto para os eleitos… Quando eu leio que os ímpios que estão perdidos “negaram o Senhor que os comprou” (2 Pedro 2:1), e que “Deus Deus em Cristo estava reconciliando o mundo consigo” (2 Cor 5:19), eu não me atrevo a confinar a intenção da redenção aos santos somente. Cristo é para cada homem. Eu estou ciente de que a objeção é frequentemente feita, que “se Cristo tirou os pecados do mundo, e ainda assim a vasta maioria dos homens morrem em seus pecados e estão perdidos, a obra de Cristo por muitos foi feita em vão”. Eu não vejo força nessa objeção… Apoio minha visão do texto, que de alguma inefável e inescrutável maneira, todo o pecado do mundo foi tomado e expiado por Cristo… Eu repudio a ideia de salvação universal, como uma perigosa heresia, e totalmente contrária as Escrituras — Mas os perdidos não provarão ser perdidos porque Cristo nada fez por eles. Ele tomou sobre si os seus pecados, Ele carregou suas transgressões, Ele proveu o pagamento, mas eles não colocaram em seu clamor qualquer interesse nisso. Ele deixou a porta da prisão aberta para todos; mas a maioria não vai para fora para ser livre. Na obra do Pai na eleição, e do Espirito na conversão, eu vejo muito claramente, na Bíblia, limitações. Mas na obra de Cristo na expiação eu não vejo limitações. A expiação foi feita por todo o mundo, mas é aplicada e desfrutada por ninguém a não ser os crentes… a expiação de Cristo é um beneficio que é oferecido livremente e honestamente a toda humanidade” (ÁUDIO. Expository Thoughts on the Gospels. Tradução do Emerson Campos).

Por: Jadson Targino

24/06/2020

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Jadson Targino

Seminarista pelo CETAD/PB (seminário da Assembleia de Deus na Paraíba), tradutor e graduando em Ciências da Religião pela UFPB.