A doutrina da Simplicidade Divina — revdmo. William Beveridge

Jadson Targino
4 min readFeb 22, 2021
Revdmo. William Beveridge

O Dr. William Beveridge (1637–1708) foi um grande teólogo e clérigo anglicano do século XVII.

Defendeu vigorosamente o mais proeminente símbolo de fé da Inglaterra, o Livro de Oração Comum (Common Prayer Book) e escreveu uma das grandes ‘teologias sistemáticas’ de seu tempo: The Doctrine of the Church of England Consonant to Scripture, Reason, and the Fathers: A Complete System of Divinity (2 vols). Além disso, era grande conhecedor da patrística e promovia as regras de piedade desenvolvida entre os Pais da Igreja Primitiva. Foi bispo de St. Asaph, na Britânia.

Beveridge falou com clareza e propriedade sobre a doutrina da simplicidade divina, a qual consta nos 39 artigos da Religião: “HÁ um único Deus vivo e verdadeiro, eterno, sem corpo, NEM PARTES, nem paixões; de infinito poder, sabedoria e bondade; Criador e Conservador de todas as coisas visíveis e invisíveis. E na unidade desta natureza divina há três Pessoas da mesma substância, poder e eternidade, o Pai, o Filho e o Espírito Santo” (Art. I, Da Fé na Santíssima Trindade). Ele disse o seguinte:

“Depois que afirmamos a Unidade da Deidade, temos aqui a natureza daquele Deus descrito; e aquelas propriedades, que as Escrituras, que Ele revelou a nós, e a razão que ele implantou em nós, se significam e atribuem a Ele. Por propriedades não devemos entender várias faculdades, hábitos ou qualidades, como elas são em nós. Pois não há nada em Deus senão Deus: a misericórdia de Deus é o mesmo que o Deus da misericórdia; o poder de Deus é o mesmo que o Deus de poder; o amor de Deus é o mesmo que o Deus de amor; e a verdade de Deus é o mesmo que o Deus da verdade.

Essas propriedades tais como misericórdia, poder, amor etc., como estão em nós, são acidentes e, portanto, realmente distinguem-se tanto de nossas almas quanto umas das outras, todavia, como estão em Deus, são [a] sua [própria] natureza e essência; e assim não se distinguem uma da outra, nem daquele em quem se diz que estão. Não podem ser diferentes dEle ou da sua Essência, pois então Ele seria imperfeito em si mesmo; pois haveria alguma propriedade ou perfeição que não seja de sua própria natureza.

E, novamente, se as propriedades de Deus fossem realmente distintas dEle, em si mesmas elas seriam ou finitas ou infinitas. Nem todas poderiam ser finitas; pois a própria infinitude é uma de suas propriedades, sim, e em nossa concepção uma propriedade de todas as suas outras propriedades; de modo que sua sabedoria, poder, justiça, ou são todos infinitas, caso contrário, seriam imperfeitas: e, portanto, assim seria impossível que todas as suas propriedades, ou mesmo qualquer uma delas, sejam finitas. E como elas não são finitas, também não poderiam ser infinitas caso fossem realmente distintas de sua essência: dado então que haveria algo infinito distinto de Deus [em Deus], tal como Deus; e, por consequência, ou Deus não pode ser infinito, e portanto não seria Deus; ou então deve haver dois, sim, muitos infinitos, o que é um absurdo tão grande quanto o anterior.

Destarte, devemos reconhecer que as propriedades de Deus não são realmente distintas da essência de Deus e que as propriedades atribuídas à sua essência são realmente as mesmas que a sua [própria] essência à qual são atribuídas de modo que seu poder, sabedoria, bondade, verdade e assim por diante, sejam todos sua essência, natureza ou substância. E como não se distinguem de sua essência, também não se distinguem umas das outras; pois então elas deveriam ser realmente distinguidas de sua própria essência também, e sendo impossível que eles sejam todos real e essencialmente distintas umas das outras, e ainda sejam todos a mesma e una essência. Torno a repetir: se eles deveriam ser realmente distintos um do outro, então Deus seria composto ou “feito” de várias propriedades distintas e, portanto, não seria um Deus simples e, consequentemente, [não seria] Deus perfeito.

Mas, pelas propriedades de Deus, portanto, devemos entender as várias apreensões que temos dele [ou seja, concebemos distinção de atributos em Deuspor mera distinctio rationis e não distinctio realis ou formalis], de acordo com as várias manifestações que ele faz de si mesmo para nós. Quanta variedade de revelações de si mesmo Ele faz para nós, de acordo com a variedade de objetos sobre os quais cremos que ele atue, e a variedade de circunstâncias sob as quais esses objetos podem estar. Deus em si é um ato absolutamente simples e puro e, portanto, como eu mostrei, não pode ter nada em si a não ser Ele mesmo, mas isso é [basicamente] o próprio ato puro em si”.

  • William Beveridge, Ecclesia Anglicana Ecclesia Catholica; or, The Doctrine of the Church of England Consonant to Scripture, Reason, and Fathers: In a Discourse upon the Thirty-Nine Articles Agreed upon in the Convocation held at London MDLXII in: The Theological Works of William Beveridge, D.D. (12 vols, Oxford: John Henry Parker, 1842–48), 7: 13–15.

Tradução: Jadson Targino

Disponível em: https://reformedcovenanter.wordpress.com/2021/01/04/william-beveridge-all-that-is-in-god-is-god/?fbclid=IwAR299Td8FDBsywn0HsARVMWufyVDRu1wlz0OLXhktUpjW1itweJlvBwXKcA

22/02/2021.

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Jadson Targino

Seminarista pelo CETAD/PB (seminário da Assembleia de Deus na Paraíba), tradutor e graduando em Ciências da Religião pela UFPB.